GESTÃO AMBIENTAL E PRODUÇÃO MAIS LIMPA (P+L)


Profa. Edmeire C. Pereira 



As informações a seguir, foram extraídas do excelente livro do Prof. Dr. José Carlos Barbieri, em seu quarto capítulo, específico para gestão ambiental empresarial, título homônimo da obra (BARBIERI, 2012, p.103-145). 


Como o seu livro aborda conceitos, modelos e instrumentos para a gestão ambiental de empresas, selecionamos um de seus modelos estudados, qual seja, a produção mais limpa (cleaner production) ou P+L, por entender que se trata de tema que interessa a todos os tipos de organizações e empresas, no tocante à racionalização de custos e qualidade de vida nos ambientes de trabalho e de produção.
O autor principia as suas discussões alertando-nos de que os Empresários e Administradores devem considerar cada vez mais o Meio Ambiente em suas decisões. Posto que, segundo ele, há três forças poderosas que influenciam isso: governo, sociedade e mercado e que “se não houvesse as pressões da sociedade e as medidas governamentais não haveria o envolvimento das empresas em matéria ambiental” (p.103). Enfim, segundo ele, os governos, a sociedade e os mercados influenciam as empresas, assim como, estas também, influenciam aqueles (p.106). 
A partir desse entendimento, o autor aborda as principais abordagens para a gestão ambiental empresarial, antes de explicitar os modelos em uso e situar a P+L. 
As abordagens citadas são: 1-Controle da poluição; 2-Prevenção da poluição; 3-Estratégica (p.107). 
Na primeira abordagem, a do controle da poluição, o autor nos diz que se trata de uma abordagem de postura reativa e insuficiente, adota práticas para impedir os efeitos da poluição gerada por determinado processo produtivo; usa “tecnologias-end-of-pipe” (p.107-110). 
Na segunda abordagem, a da prevenção da poluição, o autor nos diz que se trata de uma abordagem também reativa e proativa de minimização de resíduos, que atua sobre produtos e processos para reduzir ou eliminar os rejeitos na fonte. As tecnologias de controle neste caso são as do tipo “end-of-pipe” (p.110-113). 
Na terceira e última abordagem, a estratégica, o autor nos diz que essa abordagem busca uma situação vantajosa nos negócios atuais e futuros. Proporciona benefícios estratégicos, como a melhoria da imagem da empresa, dentre outros. O foco central desta abordagem está no ambiente de negócios da empresa, principalmente, o ambiente externo (p.113-117). 
Segundo o autor, as organizações complexas podem usar as três abordagens acima, de forma simultânea (p.117). 
Nesse ínterim, o autor nos faz uma comparação da evolução da gestão ambiental com a gestão da qualidade. Relembra que a gestão da qualidade passou pelas etapas de: Inspeção; Controle Estatístico; Garantia da Qualidade e Estratégica. E, de igual maneira, está ocorrendo o mesmo com a gestão ambiental: Caráter Corretivo; Controles de Poluição; Meios de Aumentar a Produtividade da Empresa, até se tornar Estratégica (p.118). 
Agora, o autor passa a nos elucidar um pouco mais sobre os modelos de gestão ambiental específico. Porque segundo ele, para implementar qualquer abordagem, a empresa precisa dispor de modelos. Mas, o que são modelos? Segundo o autor, são construções conceituais que orientam as atividades administrativas e operacionais para alcançar objetivos definidos. Podem ser: genéricos ou específicos. E, as empresas podem criá-los ou usar modelos já existentes (p.119-141). 

Os modelos de gestão ambiental específicos tratados no livro são de duas famílias, porém, não antagônicas: 
1-Administração da Qualidade Ambiental Total (TQEM); 
2-Produção Mais Limpa; 
3-Ecoeficiência; 
4-Projeto para o Meio Ambiente (ecodesign). 


Além destes modelos, o autor também aborda os modelos inspirados na natureza, tais como: 
1-Metabolismo Industrial; 
2-Ecologia Industrial; 
3-Simbiose Industrial. 

Como já dito anteriormente, vamos abordar neste mini texto, por hora, somente o modelo de P+L. Em outras ocasiões, voltaremos a nos reportar aos demais modelos. 
A Produção Mais Limpa (Cleaner Production) é um modelo baseado na abordagem preventiva aplicada a processos, produtos e serviços, para minimizar os impactos sobre o Meio Ambiente. 
Foi desenvolvida pelo PNUMA/ONU e ONUDI/UNIDO. Suas origens remontam à Conferência da ONU em Estocolmo, em 1972; com o conceito da época de Tecnologia Limpa (Clean Technology) e tinha três propósitos: 
1-lançar menos poluição no meio ambiente; 
2-gerar menos resíduos; 
3-consumir menos recursos naturais. 

Esse conceito de Tecnologia Limpa foi proposto na ocasião pela Comissão da Comunidade Econômica Européia, em 1970, e referia-se “a qualquer tecnologia que pudesse reduzir a poluição e economizar recursos”. 
Posteriormente, a ONUDI – Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial formulou o conceito de “Desenvolvimento Industrial Ecologicamente Sustentável” (DIES), ou seja, “modalidades de industrialização que promovem as vantagens econômicas e sociais das gerações presentes e futuras sem comprometer os processos ecológicos básicos” (p.125). 

Esse novo modelo deve atender aos seguintes critérios: usar com eficiência os recursos não renováveis; conservar os renováveis e não ultrapassar a capacidade do meio ambiente de assimilação de resíduos. 

A P+L no Seminário do PNUMA, em 1990, foi definida como: “uma abordagem de proteção ambiental ampla que considera todas as fases do processo de manufatura ou ciclo de vida do produto, com o objetivo de prevenir e minimizar os riscos para os seres humanos e o meio ambiente a curto e a longo prazos”. 
A P+L estabelece uma hierarquia de prioridades (sequência), segundo BARBIERI (2012): prevenção, redução, reuso e reciclagem, tratamento com recuperação de materiais e energia e disposição final. 
Portanto, para o autor, trata-se de uma abordagem compreensiva e preventiva para a proteção do meio ambiente e que requer algumas ações de: conservar energia e matéria-prima, eliminar substâncias tóxicas e reduzir os desperdícios e a poluição. 
Segundo o autor, o PNUMA adverte que há expressões similares a P+L, para as quais não há um consenso universal. 
Pela Declaração Internacional Sobre Produção Mais Limpa (PNUMA), a P+L deve ser entendida como “a aplicação contínua de uma estratégia preventiva integrada, envolvendo processos, produtos, serviços, a fim de alcançar benefícios econômicos, sociais, para a saúde humana e o meio ambiente”. 
A ONUDI é a Agência Executiva que coordena os Centros Nacionais de Produção Mais Limpa, em cinquenta países, inclusive, o Brasil. Em nosso país, é coordenado pelo Centro Nacional de Tecnologias Limpas do SENAI do Rio Grande do Sul (CNTL). Para este Centro, a P+L significa: “a aplicação contínua de uma estratégia econômica, ambiental e tecnológica integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, água e energia, através da não geração, minimização ou reciclagem de resíduos gerados” (p.127). 
A redução na fonte é o nível 1 de prioridade máxima nos diferentes níveis da P+L. Ou seja, reduzir emissões e resíduos e eliminar ou reduzir a sua toxicidade. Já, na produção, as mudanças nos processos se realizam por meio de: boas práticas operacionais, substituição de materiais e mudanças nas tecnologias.

Referência:
BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial. In: ________. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 358p.; p.103-145. 

Departamento de Ciência e Gestão da Informação da Universidade Federal do Paraná 
Curitiba-PR/Brasil 


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