Como não se arrepender de ter feito a escolha errada?


As expectativas nos atrapalham e criam sentimentos negativos que roubam oportunidades de desfrutarmos uma experiência de vida mais equilibrada e harmônica.

Li um artigo de Paul Hancox hoje de manhã. Paul escreve sobre a nossa famigerada tendência de avaliar escolhas como se nossas vidas dependessem delas e, quando finalmente nos decidimos, nosso processo mental nos leva a nos decepcionarmos e ficarmos constantemente pensando se a outra escolha não teria sido melhor.
Quando fazemos uma escolha, por mais simples que seja, estamos abrindo mão de todos os outros futuros pertencentes às opções das quais abdicamos. Esses outros futuros têm o poder de nos atormentar constantemente, nos iludindo com a idéia de que poderiam ter sido melhores escolhas.
Fazemos isso porque nosso foco geralmente está no prazer, na obtenção de felicidade. Avaliamos opções em nossas vidas sempre pensando em qual o potencial que cada escolha tem de, direta ou indiretamente, nos proporcionar mais prazer ou felicidade. Quando encontramos qualquer dificuldade ou nos decepcionamos no caminho escolhido, não podemos evitar olhar para trás e pensar se as outras opções não teriam sido melhores no sentido de nos fazer mais felizes.
Esse processo é típico em questões como carreira e casamento. Não é fácil voltar atrás nesses casos e o tempo perdido jamais pode ser recuperado. É natural, então, nos perdermos em elucubrações mentais sobre o que poderia ter sido se tivéssemos feito escolhas diferentes. Mais uma vez, o foco está na felicidade. Quando fazemos isso, estamos no fundo do abismo do nosso egocentrismo tentando descobrir o que teria ocorrido em nossa vida que poderia nos fazer mais felizes.
Esse raciocínio é um beco sem saída e extremamente danoso! A armadilha do pensamento de que a grama do vizinho é sempre mais verde – “A escolha que eu não fiz era a melhor, que droga!” – só nos leva a um lugar: estagnação e depressão.
De fato, um dos maiores medos do ser humano é de fazer a escolha errada, desde o prato a pedir no restaurante ou o livro a comprar na livraria até casar com o fulano ou a fulana, ter filhos ou resolver se divorciar. A possibilidade de fazer a escolha errada nos atormenta a ponto de, às vezes, nos paralisar. Não escolhemos nada, não optamos por nenhuma das escolhas, por medo de errar e nos arrependermos depois.
Como sair desse ciclo vicioso? Como parar de fantasiar sobre oportunidades perdidas e futuros que já não podem mais ser vividos?
A solução passa pelo mesmo processo que eu venho debatendo aqui neste site nesses últimos dois anos! É preciso mudar o foco, é preciso parar de querer ser feliz e procurar fazer algo útil pela sua evolução pessoal e pelos outros. A partir do momento em que você pára de pensar se algo vai ou não lhe fazer feliz e passa a pensar se aquilo vai ajudá-lo a crescer e se esse crescimento vai influenciar outros à sua volta, esse “grande” dilema de escolher entre A, B ou C se torna menos importante. Você está menos preocupado com o próprio umbigo e sua satisfação e mais preocupado em evoluir e contribuir.
Sentimentos de decepção, tristeza, depressão, melancolia e ansiedade geralmente estão ligados a uma supervalorização da felicidade. Há uma expectativa irreal de que a vida deve ser da forma como você espera, como você um dia sonhou. Esse raciocínio só o põe ainda mais pra baixo e não o ajuda em nada no que diz respeito a amadurecer como ser humano e evoluir.
Mas então devemos aceitar a infelicidade, abaixar a cabeça e seguir com a vida?
Incrivelmente essa é uma pergunta que surge quando toco nesse assunto! É preciso compreender, entretanto, que uma afirmação não leva necessariamente a uma negação. Parar de procurar a felicidade não significa aceitar infelicidade! Significa simplesmente parar de se focar na satisfação egoísta dos desejos pessoais como se estes fossem a coisa mais importante do mundo e sua vida não tivesse valor se você não conseguir satisfazê-los.
De fato, as pessoas verdadeiramente felizes são aquelas que não buscam a felicidade, mas se dedicam a tarefas maiores do que elas mesmas, estando mais preocupadas em contribuir do que ter/ser/fazer isso ou aquilo. Elas não buscam felicidade e, no entanto, elas não são infelizes.
Isso, contudo, não é algo que ocorre da noite pro dia. A maioria dos leitores que se identificam com essa condição não vão acordar amanhã de manhã sendo pessoas completamente diferentes, “recicladas”.
É preciso um esforço contínuo, um processo de auto-reflexão extenso, uma “reprogramação existencial” para que os velhos hábitos (já não mais úteis) sejam substituídos por uma nova forma de pensar que foca em prioridades mais maduras.
O primeiro passo está em identificar quais são essas prioridades mais maduras. Cada caso, contudo, é um caso. Não há nada que seja melhor para todo mundo, cada pessoa está num momento evolutivo diferente e tem necessidades diferentes. Cabe a cada um identificar o que é mais avançado e sincero em seu caso pessoal e o que já não é mais útil, que já pode ser descartado.
O segundo passo é estruturar a mudança, planejar como você deixará os velhos hábitos para trás e como passará a adotar naturalmente novos hábitos e novas formas de pensar. Isso pode ser feito de diversas formas. Uma das mais efetivas é o uso de planilhas que devem ser preenchidas diariamente que o forçam a lembrar o que fazer e o que não fazer e registram seu progresso. Aos poucos, essa disciplina começa a se transformar em uma segunda natureza. A auto-organização leva ao progresso dentro das mudanças programadas.
O segundo passo é começar a se desvencilhar da idéia de que a felicidade é o objetivo da vida e que ela consiste em conquistar as coisas que você acha que deve, criando expectativas, ansiedade e gerando medo de qualquer mudança ou fator com poder de ameaçá-lo de conseguir o que quer – justamente essas coisas que você associa com felicidade e que, por isso, tem tanto medo de que não aconteçam. Percebe como esse raciocínio é enganoso? Ninguém tem conhecimento algum sobre o futuro, mas a insegurança nos faz criar expectativas do que “gostaríamos que acontecesse”. Até certo ponto, isso é inevitável, não somos amebas! Temos objetivos, metas, queremos chegar a certos lugares na vida. Tudo bem até aí. A grande armadilha, entretanto, está em associar esses desejos e objetivos com a obtenção de um bem-estar qualquer que você associe com felicidade.
Se você leu os dois e-books gratuitos que eu distribuo aqui no site (se não, basta se inscrever no site colocando nome e e-mail no topo da página), você sabe que meu ponto de vista sobre esse assunto é que essa necessidade de obter felicidade futura através de objetivos vem de necessidades emocionais não supridas. Associo essas necessidades a furos em um balde. Não adianta você encher o balde de água, se ele tem furos, a água vai vazar e você ficará na dependência constante de enchê-lo o tempo todo (sensação de que nada é bom o suficiente, nada o satisfaz). Necessidades emocionais como timidez, dificuldades com auto-estima e autoconfiança, ansiedade, remorso, etc. são como furos em seu balde. Não adianta conquistar “coisas” no futuro achando que você se sentirá melhor quando “chegar lá”. A razão de seus sentimentos para consigo mesmo, sua depressão, sua tristeza ou o que quer que seja que o incomode não é a falta de conquistas de objetivos, sonhos ou as circunstâncias, são as próprias dificuldades pessoais!
A partir do momento que você conserta esses furos, a necessidade de conquistar objetivos para suprir necessidades emocionais some. Você começa, então, a se preocupar mais com sentido e crescimento de verdade do que em ficar paparicando a si mesmo com sonhos vazios. O medo do futuro e a ansiedade também somem porque você não tem uma ligação emocional com o que pode ou não pode acontecer. Você não precisa mais de um hipotético futuro de sonhos realizados para se sentir bem, você já se sente bem hoje.
Fran Christy é formada em administração de empresas com especialização em planejamento estratégico. Fran vive em Seattle, EUA e escreve sobre desenvolvimento pessoal, produtividade e estratégias de vida.

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