Trabalhar quatro horas por semana...


Fran Christy entrevista Tim Ferriss

Mês passado encontrei Tim Ferriss em um evento aqui em Seattle. Sentamos para conversar sobre nossos estilos de vida parecidos, a filosofia carpe diem e a obsessão com o trabalho em nossa sociedade. Timothy (Tim) Ferriss, autor do best-seller Trabalhe 4 Horas por Semana (The 4-Hour Word Week), explica nessa entrevista como concebeu o livro e dá dicas para que você também possa viver esse estilo de vida e trabalhar 4 horas por semana (ou menos!).
Por Fran Christy
Fran Christy: Como foi a escolha do título do livro? Por que “Trabalhe 4 Horas Por Semana”?

Tim Ferriss: A premissa básica do tema do livro é que temos hoje em nossa sociedade moderna 3 moedas: tempo, renda e mobilidade. Nos últimos anos tem se tornado mais fácil e acessível para a pessoa comum, que não é milionária, um alto executivo ou alguém com muitas possiblidades, de organizar seu trabalho e utilização do tempo de forma a maximizar essas 3 moedas. Hoje em dia, qualquer um, em posse do conhecimento necessário, pode conseguir mais dinheiro, mais tempo e mais possibilidades de se movimentar pelo mundo de forma que nossos pais e avós nem sequer sonhavam. O conceito então da semana de trabalho tradicional de 40 horas cai por terra e esse título tem o objetivo de chamar a atenção. A pessoa pega o livro primeiramente mais por curiosidade “como assim uma semana de trabalho de 4 horas? Quem me dera!” e a partir daí ela começa a ver que o negócio não é tão complicado ou impossível!
Fran Christy: Como surgiu a idéia do livro?
Tim Ferriss: O conteúdo do livro derivou de palestras que eu realizei para o curso de empreendedorismo em tecnologia na Universidade de Princeton. Em 2004 eu estava trabalhando 80 horas por semana como proprietário da minha própria empresa, meu “bebê”, dedicando todo o meu tempo acordado, achando que estava fazendo uma grande coisa. Demorou, mas eu me dei conta de que renda não faz o menor sentido sem tempo. Você só trabalha para ter mais dinheiro para que você possa fazer as coisas que deseja. Mas se você trabalha até o esgotamento, não sobre tempo nenhum, quer você esteja fazendo salário mínimo ou milhões, se você não tem tempo para viver, qual o sentido do trabalho?
Os 2 anos que se seguiram foram dedicados a viajar por mais de 20 países, entrevistar pessoas que viviam gerando renda quase que passivamente, dedicando o menor tempo possível ao trabalho, automatizar meu negócio, testar minha teoria de que você não precisa mais estar presente num local físico para realizar trabalho e que você é muito menos necessário do que imagina – nessa época eu estava checando email só 1 vez por semana. Meu negócio não sofreu nem um pouco, me mostrando o quão burro eu fui trabalhando por tanto tempo 80 horas por semana, checando email a cada 10 minutos!
A idéia do livro foi sugerida pelos meus alunos para que o conceito não se perdesse e pudesse ser acessado por pessoas ao redor do mundo.


Fran Christy: A proposta do livro é 4 horas de trabalho por semana, quantas horas você, hoje, passa trabalhando?
Tim Ferriss: Se for contar trabalho como esforço para fins de geração de renda, eu passo umas 2 ou 3 horas a cada 2 semanas verificando emails e relatórios dos meus negócios. Nada mais do que isso. Não há mais trabalho braçal, projetos a serem realizados, tarefas em si, é só verificação do que está acontecendo e uma eventual tomada de decisão. Tudo em meus negócios é virtual e terceirizado. Não existe escritório, não existem funcionários formais. Cada um trabalha para mim de onde quiser. Seja de uma praia em Fiji ou de pijamas na sala assistindo TV. Cada um tem metas que devem ser alcançadas dentro de um determinado período e a responsabilidade de me passar relatórios periódicos.
Fran Christy: E esses funcionários virtuais não pisam na bola? Eles fazem tudo da forma como você espera?
Tim Ferriss: Sim, nunca tive problemas com nenhum deles. Eles sabem que são descartáveis, se pisarem na bola, um email e eles não fazem mais parte da minha equipe. Não tem burocracia porque eles não são contratados. Isso é melhor para ambos os lados, pois garante para mim que eles realizarão seu trabalho como esperado. Numa empresa convencional, o medo de perder o emprego é um pouco menor por causa de todas as burocracias, custos e complicações advindas da demissão de um funcionário.
Fran Christy: E quanto a responsabilidade de deixar seu negócio nas mãos de outras pessoas?
Tim Ferriss: Não é bem esse o caso. Cada uma das pessoas que trabalha pra mim faz algo específico e bem delimitado, nenhum deles tem responsabilidade real, nenhuma dessas pessoas está “tocando o meu negócio na minha ausência”.
Essa é a beleza da automatização total, o negócio se toca sozinho, não precisa nem de mim, nem dos meus funcionários. Todo o trabalho realizado é de manutenção e de suporte, não de gestão do negócio em si.
Ninguém está tomando decisões que deveriam ser tomadas por mim! Decisões importantes continuam a ser tomadas por mim, elas só não mais tomam o meu tempo. Decisões corriqueiras, no entanto, não são tomadas por mim, pois percebi que centralizar a administração no empreendedor é mania de controle. Também não sou informado de coisas triviais e corriqueiras que acontecem. Meus relatórios me mostram o que está acontecendo e o modelo de negócios é formatado de forma que se algo de suspeito ou realmente errado ocorrer, por culpa de um funcionário, eu tenho como saber facilmente. Eles também sabem disso, por isso não pisam na bola. A maior parte das ferramentas de administração são externas, ou seja, não estão ao alcance da manipulação direta de ninguém dentro do negócio.
Fran Christy: De quantos funcionários você está falando?
Tim Ferriss: Tenho diversas empresas, e eventualmente projetos específicos, então esse número varia entre 200 e 300 pessoas ao redor do mundo.
Fran Christy: Numa empresa convencional, a responsabilidade e dor de cabeça para administrar toda essa gente consome o empreendedor!
Tim Ferriss: Sim, justamente! Eu já senti isso na pele!
Fran Christy: Você poderia explicar mais sobre o motivo de se trabalhar menos e de ter um negócio como o seu?
Tim Ferriss: Como eu mencionei numa das respostas anteriores, renda sem tempo é inútil. Não adianta se matar de trabalhar, fazer um monte de dinheiro se você não tem tempo para viver. Eu gosto muito da sua abordagem da vida segundo a filosofia carpe diem. Lembro de ter assistido Sociedade dos Poetas Mortos quando adolescente e ter ficado com essa coisa na cabeça – tenho que viver carpe diem, tenho que fazer a minha vida valer a pena!
E é justamente isso, parar de fazer o que você não gosta e arranjar tempo para fazer a vida valer a pena. As pessoas passam tempo demais no trabalho, trabalhando para os outros ou para si mesmas, elas não sabem se organizar de forma a otimizar seus esforços. Também não sabem ganhar dinheiro, fazem o que não querem, só porque não sabem como ou que podem fazer dinheiro de outras formas sem comprometer tempo no processo. Esse livro não é sobre como montar um negócio automatizado, mas sobre como se organizar para eliminar da sua vida tudo o que onera o seu tempo e lhe rouba oportunidades de viver com mais sentido.
Fran Christy: É incrível, no entanto, como as pessoas que de uma hora para outra, adquirem mais tempo como desempregados ou aposentados, não encontram nada significativo para fazerem com esse tempo!
Tim Ferriss: Sim, vejo isso também com pessoas que começam a aplicar os conceitos que explico, mas empacam pois sentem falta de preencher seus dias com trabalho, como se suas vidas fossem tão vazias que não conseguissem encontrar nada melhor para fazer do que trabalhar.
Fran Christy: Isso é cultural também, não?
Tim Ferriss: Sim, demais. Somos criados aprendendo que vamos crescer e quando isso acontecer, nós iremos conseguir um emprego ou trabalhar por conta, mas vamos empregar durante 35, 40 anos de nossas vidas as melhores horas de nossos dias para essa tarefa que desde pequenos aprendemos que será árdua, chata e indesejada, porém necessária, pois se não trabalharmos, não conseguiremos nos sustentar.
Ninguém é criado com base em sentido, com base em princípios de aproveitar a vida, fazê-la valer a pena. A pessoa cresce e fica meio desnorteada mesmo quando de repente tem todo o tempo do mundo à sua disposição. A percepção de muita gente é de que se você vai ficar um tempo sem trabalhar, você deveria então estar procurando outro emprego ou curtindo a vida no sentido de lazer, férias, descanso. Muito poucas pessoas pensam realmente em termos de fazer o que lhes completa como pessoas, o que dá sentido real às suas vidas e rebaixar para segundo plano a geração de renda.
Fran Christy: Isso realmente não é tão simples quanto parece!
Tim Ferriss: Claro que não! É por isso que a aposentadoria é um sonho frustrado para muita gente. A pessoa trabalha a vida inteira e quando vai chegando perto do fim, ela começa a colocar esperanças e sonhos de tudo o que não pôde fazer na vida porque não tinha tempo e acha que vai ter a chance de fazer todas essas coisas quando se aposentar. Quando finalmente ela se vê livre, ela não faz mais nada além de sentar na frente do sofá e assistir TV ou fofocar com parentes, amigos e vizinhos! Isso acontece também com pessoas que atingem o ponto da aposentadoria antes do tempo por deficiências físicas e até mesmo com pessoas que atingem um nível financeiro muito alto cedo demais e decidem parar de trabalhar. Sentar na beira da praia e curtir o mar é legal, mas é uma sensação que só dura alguns dias e depois? Fazer turismo é empolgante por uns 15 dias a 1 mês e depois? Muita gente não passa desses sonhos em sua imaginação do que fariam com suas vidas se não tivessem mais que ir todo dia ao trabalho. Poucos pensam na vida que continua depois, e isso é, como você fala, falta de sentido.
Fran Christy: É a velha armadilha do sonho do final feliz. Acho interessante que você toca no assunto em seu livro de uma forma muito parecida como trabalho na filosofia carpe diem. Em suas palavras, as pessoas não querem ser felizes, elas querem excitação, motivação.
Tim Ferriss: Sim, o conceito de felicidade está tão deturpado de mitos e misconcepções que as pessoas usam esse termo levianamente para descrever qualquer sonho ou estado de alegria. Mas no fundo o que as pessoas querem quando elas dizem que querem a felicidade não é a ausência de problemas ou um final feliz, elas querem a emoção, a adrenalina, o coração batendo mais forte, a motivação, o entusiasmo. E isso só é possível se você consegue inserir sentido em sua vida, fazer as coisas por um motivo específico, não só pela idéia abstrata de “ser feliz”.
Definir metas e lutar para concretizá-las é algo que me dá o frio na barriga e faz meu coração bater mais forte. Acredito que cada um tem que identificar qual o seu mecanismo interno de motivação. O que faz você se entusiasmar e correr atrás de algo como se sua vida dependesse daquilo? O que faz você se motivar a ponto de esquecer do mundo? Acho que esse é o segredo de uma vida mais completa e significativa.
Procure o que o motiva e você encontrará a felicidade por tabela!
Fran Christy: Você tem algumas dicas rápidas para nossos leitores de como otimizar o uso do tempo no dia a dia?
Tim Ferriss: Acredito que o que mais consome o tempo das pessoas na vida moderna é email e telefone. Mal posso acreditar quando na minha checada bi-mensal de emails, vejo uma enxurrada de emails inúteis com textos bonitinhos, power points, mensagens motivacionais, avisos de crianças desaparecidas (quantas vezes é preciso berrar que esses avisos são todos falsos!), mesma coisa com avisos de vírus. E tudo isso enviado por gente de meu convívio que dizem ser muito ocupadas. Se são ocupadas por que não param de ler e re-enviar para todo mundo essas bobagens?! Certamente seriam “menos” ocupadas se fossem mais seletivas com seus emails!
Outro problema do email é se tornar escravo da caixa de entrada, deixando o email aberto o dia inteiro no fundo de outras aplicações e correndo para lá quando se ouve o alarmezinho de aviso de novas mensagens. Discipline-se para verificar emails apenas em alguns momentos pré-definidos no dia, avise pessoas chave em sua vida sobre seus horários e diga que se for uma emergência, venham até você ou liguem para um número especial de celular – eu mantenho um celular que fica sempre ligado para emergências e deixo o outro permanentemente desligado, só recebendo mensagens.
Telefone é outro problema sério. Com todo mundo usando celular, nos tornamos acessíveis 24 horas por dia para as interrupções alheias. Seja chato mesmo, desligue seu telefone e só verifique as mensagens! É claro que eu sei que muita gente não pode se dar ao luxo de fazer isso, mas delimitar acessibilidade quando é possível e limitar conversas além do necessário quando você tem coisas pra fazer (pare de bater papo furado!) ajuda muito a liberar mais tempo e melhorar a produtividade.
Aprenda a delegar. Mesmo em ambientes formais de trabalho, muita coisa é centralizada porque as pessoas não sabem distribuir corretamente a carga de trabalho, achando que só elas mesmo sabem fazer direito! Aprenda a confiar mais nos outros e lhes dar uma chance de mostrar competência.
E por último, comece a delinear uma vida mais livre, em que você não tenha mais que trocar seu tempo por dinheiro. Comece a planejar como você irá eliminar sua carga de trabalho sem reduzir e possivelmente aumentar sua renda. Estude formas de se fazer isso mãos à obra!

O livro Trabalhe 4 Horas Por Semana é a versão em Português do original The 4-Hour Work Week, escrito por Timothy (Tim) Ferriss. O livro narra a jornada de Tim que o levou de empregado de uma grande empresa, para empreendedor trabalhando 80 horas por semana e por fim como foi a mudança para uma vida com mais valorização do tempo, construindo um negócio totalmente automatizado que permite que Tim trabalhe 4 horas ou menos por semana.
A proposta de Tim Ferris para construção de um negócio automatizado não é acessível para muita gente, principalmente para Brasileiros. A opção de Tim, no entanto, não é a única. Como eu já mencionei aqui no blog e muitos dos meus leitores já seguem, o site Empreendedorismo Onlineensina uma forma mais simples, barata e acessível para todos para criar negócios que funcionam, em sua maior parte, automaticamente na Internet e geram renda muito superior do que a maioria dos Brasileiros faz em empregos formais.

Comentários

  1. Excelente blog!

    Escrevi um artigo sobre Tim Ferris no meu Blog http://www.alessandrolifecoach.com onde apenas falo de forma resumida e postei um video do Tim Ferris no programa Ted Talks, muito bom e que vale a pena.

    Acredito que com a expansão crescente da net, muitas pessoas podem fazer o seu próprio marketing pessoal criando Blogs, sites, ou até mini-sites.


    Acredito que até pessoas que tenham algum hobby ou paixão de que gostam muito, podem rentabilizar isso através de sites/blogs. Tim Ferris fala sobre isso e Gary Vaynerchuck, em seu livro "VAI FUNDO- O guru das mídias sociais ensina a ganhar dinheiro fazendo o que você gosta"

    Caso alguém queira, lançei um site que explica como fazer isso. Pode-se fazer um download gratuito de alguns capítulos do E-book lá.
    site: http://www.minisitesquevendem.com

    Como gostei de seu Blog, vou divulgá-lo em um artigo no meu também!

    Grande abraço e sucesso!

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